sexta-feira, abril 21, 2006

Externalismos

O texto que estou escrevendo para o Encontro da Anpof começa com a seguinte definição do externalismo/anti-individualismo:

O externalismo ou anti-individualismo é a posição filosófica que sustenta que os conteúdos dos pensamentos, estados e eventos mentais de um sujeito são constituídos, pelo menos parcialmente, por fatores que se encontram fora de sua mente, no 'mundo externo', dos objetos físicos e das relações sociais com outros seres humanos.

Chamemos essa definição de E1. Ao comentá-la, meu orientador afirma o seguinte:

Eu diria, antes, como Putnam: 'fora da cabeça'. Pois, se o externalismo está certo, a própria mente está fora da cabeça! Na Introdução a The Twin-Earth Chronicles, Putnam observa:

Por certo, negar que os significados estejam na cabeça deve ter consequências para a filosofia da mente, mas à época em que escrevi essas palavras eu não sabia ao certo que consequências eram essas. Afinal de contas, conhecer o significado de uma palavra e usar uma palavra com significado são "habilidades mentais" paradigmáticas; entretanto, eu não sabia ao certo, quando escrevi 'The Meaning of "Meaning"', se a moral daquele ensaio deveria ser que não devemos conceber o significado das palavras como algo que está na mente ou se (como John Dewey e William James) deveríamos parar de pensar na mente como algo que está "na cabeça", e concebê-la, antes, como um sistema de capacidades e interações que envolvem o ambiente. No fim, terminei oscilando entre essas duas posições. (In. Andrew Pessin e Sanford Goldberg, The Twin Earth Chronicles; Armonk, NY: M.E. Sharpe, 1996, pp. xvii-iii.)

Chamemos a tese proposta por Putnam na passagem acima -- a de que própria mente está "fora da cabeça" -- de E2. De fato, uma das perguntas que não querem calar no meu estudo dos externalistas é se E2 dá conta dos interesses e suposições mais fundamentais dos autores que defendem essa posição. Se a tese central do externalismo é corretamente apresentada por E2, e não por E1, então preciso corrigir minha afirmação, feita num post anterior, segundo a qual

[...] a tese de que os conteúdos mentais estão 'fora' da mente, e não 'dentro' dela, colocada nesses termos, encaminha para exatamente a mesma imagem que deveria estar sendo combatida pelos defensores do anti-individualismo, i.e., a imagem na qual 'mente' e 'mundo' estão metafísica e epistemicamente isolados. [...] Em minha opinião, um modelo filosófico realmente satisfatório para explicar os fenômenos mentais deveria colocar em questão a própria dicotomia filosófica entre 'mente' e 'mundo', 'interno' e 'externo', e não simplesmente defender um realismo metafísico no qual essas esferas continuam isoladas. [...]

Em outras palavras: se a tese externalista é a de que a própria mente está "fora da cabeça" (E2), então sim temos um abandono da dicotomia tradicional entre "mente" e "mundo", que eu argumentava ser compartilhada por "externalistas" e "internalistas". Entretanto, como já assinalei naquele mesmo post:

[...] o próprio termo 'externalismo' foi introduzido originalmente por Putnam num contexto em que ele descrevia uma perspectiva do que ele próprio chamou de "realismo metafísico", ou "o ponto de vista de Deus", i.e., a concepção segundo a qual "O mundo consiste de alguma totalidade fixa de objetos independentes da mente." (Putnam 1981).


Se é assim, então o "externalismo" parece ter sido concebido em pecado. É claro que isso não exclui a possibilidade de que, no desenvolvimento da posição de Putnam, ele possa ter-se dado conta de que a tese de que os significados estão fora da cabeça é ambígua, ou, no mínimo, indeterminada quanto à metafísica e à filosofia da mente em que a devemos acomodar. Em princípio, ela poderia muito bem ser acomodada na moldura do realismo metafísico. É justamente isso que, me parece, filósofos "externalistas" como Davidson tentam fazer. Aparentemente Putnam deu-se conta desse problema, e passou a defender a tese do externalismo semântico de uma maneira mais consistente com seu "realismo interno", estendendo a própria mente sobre o mundo.

Dito isto, vale salientar que a tese "externalista" expressa por E2 não é nada nova na história da filosofia. Não precisamos parar em John Dewey e William James, como faz Putnam. Podemos retraçar sua origem pelo menos a Aristóteles, creio eu. Mas os meus "externalistas" preferidos na história da filosofia são Berkeley, Hume, Kant e Wittgenstein. Na seqüência pretendo descrever porque cada um deles pode ser descrito assim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sobre o externalismo de Aristóteles, ver o artigo do próprio Putnam (em colaboração com Martha Nussbaum) 'Changing Aristotle's Mind' (reimpresso em 'Words and Life'). Tenho mais a dizer sobre esse post (mesmo concordando com quase tudo), mas cada coisa de uma vez.

Anônimo disse...

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