terça-feira, novembro 22, 2005

Solipsismo, Idealismo e Realismo: raizes comuns

No cap. VIII de Insight and Illusion (Thoemes Press, England, 1997 --- reimpressao da edicao revisada e corrigida de 1989), Peter Hacker apresenta uma analise do que ele chama de ``processo pelo qual Wittgenstein gradualmente libertou-se da ilusao metafisica'' do solipsismo, levando por fim `a ``elegante e compreensiva refutacao do solipsismo na sua segunda fase'' (p. 216). Um dos momentos mais interessantes dessa analise eh a apresentacao da origem comum das doutrinas filosoficas do Solipsismo, Idealismo, e Realismo, na concepcao de Wittgenstein. Segue a traducao da passagem na qual Hacker apresenta esse ponto:

Solipsismo, Idealismo e Realismo, Wittgenstein afirmou, sao todos doutrinas metafisicas. O Solipsismo e o Idealismo, lutando futilmente para iluminar a essencia do mundo, para lancar luz sobre a natureza da realidade ou de nossa experiencia da mesma, propoem o que sao com efeito proposicoes gramaticais, i.e., regras de representacao, como se elas revelassem verdades essenciais sobre o que deve ser representado. Alem disso as proposicoes gramaticais que eles propoem enganadoramente nao sao, de forma geral, regras de nosso metodo de representacao. O Realismo concebe a si mesmo como a filosofia do senso comum, pretendendo defender as crencas do senso comum contra o desafio idealista e solipsista por meio de um argumento filosofico. Esse filosofo do senso comum esta, contudo, tao removido do entendimento do senso comum quanto o solipsista e o idealista (BB, p. 48). Nao eh tarefa da filosofia, argumentou Wittgenstein, defender opinioes verdadeiras ou falsas, mas clarificar conceitos e suas relacoes internas. A fortiori nao eh sua tarefa defender crencas do senso comum, mas clarificar o metodo de representacao em termos dos quais aquelas (e outras) crencas sao expressas. O realista tenta justificar nossa gramatica como se essas regras de representacao fossem verdades sobre o mundo. O solipsista e o idealista geram um problema. Seguramente, eles o compreendem mal, e a solucao que eles oferecem eh uma consequencia desse desentendimento. O realista nao resolve os problemas sobre os quais o solipsista e o idealista se debatem. Nao os compreendendo corretamente, ele os desconsidera. O solipsista nao compreende como outro poderia ter uma experiencia. A resposta ingenua do realista consiste em afirmar que nao ha dificuldade alguma aqui, uma vez que para outro ter uma experiencia eh para ele ter o que eu tenho quando tenho experiencia. Isso ele concebe como uma `resposta de senso comum' ao problema. Mas senso comum nao eh filosofia, e filosofia do senso comum eh mah filsosofia . A resposta realista-ingenua nem mesmo parece ver o ponto que o solipsista ve, a saber, que o `sentido interno' nao fornece umc riterio de identidade que poderia tornar inteligivel atribuir experiencias a outros. Aquela explicacao por meio da identidade que o realista ingenuamente sugere nao pode funcionar desse modo. O senso comum genuino, contudo, nao pode resolver dificuldades filosoficas. O senso comum responderia ao solipsista com questoes como `Por que voce nos diz isso se voce nao acredita que realmente ouvimos isso?' (BB, p. 58) ou, como o Dr. Johnson, chutaria uma pedra para refutar o idealismo. O senso comum esta fora de seu ambito quando se volta para a filosofia. A perplexidade do filosofo nao pode ser resolvida por nenhuma informacao que o senso comum possa produzir. (pp. 226--227 --- negrito adicionado)

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