No cap. VIII de Insight and Illusion (referencia no post anterior), Hacker apresenta o desenvolvimento da posicao de Wittgenstein em relacao ao solipsismo, e o divide em tres fases principais.
Inicialmente, Wittgenstein sustentou um tipo de ``solipsismo transcendental'', ou ``schopenhaueriano'', o qual eh expresso especialmente nas proposicoes 5.6.x do Tractatus.
Posteriormente, em sua fase verificacionista (por volta de 1929), W. teria sido levado a um tipo de ``solipsismo metodologico'' --- similar `aquele professado por positivistas logicos, tais como Carnap --- que consiste em partir das experiencias privadas para dai "construir" ou inferir o "mundo externo" e as "outras mentes". Segundo essa concepcao, quando expresso um estado ou evento mental --- e.g., quando digo que "eu estou com dor de dente" --- o que faco eh comparar diretamente um conceito --- aqui, o de ``dor de dente'' --- com a realidade; para verificar essa proposicao nao preciso identificar nenhum proprietario da dor, ao contrario do que ocorre quando afirmo que "ele esta com dor de dente". A gramatica da dor exclui a possibilidade (logica) de outros sentirem minha dor. Nesse sentido, o conceito de "dor de dente" eh equivoco: ele tem um uso em proposicoes de primeira pessoa, e.g., as que descrevem "minha dor de dente" (nas quais, de fato, o possessivo "minha" torna-se redundante), e um outro uso no caso de uma proposicao em terceira pessoa. A diferenca no uso deriva da diferenca no metodo de verificacao dessas proposicoes --- no caso da primeira pessoa, ha uma verificacao direta , mas no caso da terceira pessoa ha necessidade de observacao do comportamento, e fazer inferencias, etc. De fato, dada essa diferenca de sentido, nem mesmo caberia chamar as frases que descrevem as dores de outrem de proposicoes (bona fide), devendo-se antes tratar delas como sendo hipoteses.
Na opiniao de Hacker, nessa fase vrificacionista W. teria dado um primeiro passo na direcao correta --- na medida em que mostrou que o erro do solipsista reside na confusao de um fato da gramatica (``Apenas eu posso sentir minha dor'') com uma necessidade metafisica --- mas depois teria tomado o caminho errado --- chegando `a teoria da nao-propriedade (no-ownership theory) (cf. p. 220). Segundo essa teoria, o uso do pronome `eu' em frases que exprimem estados mentais no tempo presente poderia ser abolido, e "eu tenho dor de dente" seria equivalente a "ha dor de dente".
Apenas nos escritos posteriores a 1933, a comecar pelo Blue Book, W. teria abandonado de vez esse solipsismo metodologico. Nessa ultima fase, W. afirma claramente que o problema do solipsista eh que ele parte de uma confusao gramatical, e, dando-se conta disso ou nao, recomenda uma forma diferente de representacao --- tomando a nossa forma efetiva como sendo inadequada para expressar a posicao especial do sujeito na linguagem. (cf. p. 228). A ``cura'' para o solipsismo consite numa apresentacao cuidadosa da gramatica para falar de estados e eventos mentais, e numa apresentacao cuidadosa dos erros da analise solipsista dessa gramatica.
Inicialmente, Wittgenstein sustentou um tipo de ``solipsismo transcendental'', ou ``schopenhaueriano'', o qual eh expresso especialmente nas proposicoes 5.6.x do Tractatus.
Posteriormente, em sua fase verificacionista (por volta de 1929), W. teria sido levado a um tipo de ``solipsismo metodologico'' --- similar `aquele professado por positivistas logicos, tais como Carnap --- que consiste em partir das experiencias privadas para dai "construir" ou inferir o "mundo externo" e as "outras mentes". Segundo essa concepcao, quando expresso um estado ou evento mental --- e.g., quando digo que "eu estou com dor de dente" --- o que faco eh comparar diretamente um conceito --- aqui, o de ``dor de dente'' --- com a realidade; para verificar essa proposicao nao preciso identificar nenhum proprietario da dor, ao contrario do que ocorre quando afirmo que "ele esta com dor de dente". A gramatica da dor exclui a possibilidade (logica) de outros sentirem minha dor. Nesse sentido, o conceito de "dor de dente" eh equivoco: ele tem um uso em proposicoes de primeira pessoa, e.g., as que descrevem "minha dor de dente" (nas quais, de fato, o possessivo "minha" torna-se redundante), e um outro uso no caso de uma proposicao em terceira pessoa. A diferenca no uso deriva da diferenca no metodo de verificacao dessas proposicoes --- no caso da primeira pessoa, ha uma verificacao direta , mas no caso da terceira pessoa ha necessidade de observacao do comportamento, e fazer inferencias, etc. De fato, dada essa diferenca de sentido, nem mesmo caberia chamar as frases que descrevem as dores de outrem de proposicoes (bona fide), devendo-se antes tratar delas como sendo hipoteses.
Na opiniao de Hacker, nessa fase vrificacionista W. teria dado um primeiro passo na direcao correta --- na medida em que mostrou que o erro do solipsista reside na confusao de um fato da gramatica (``Apenas eu posso sentir minha dor'') com uma necessidade metafisica --- mas depois teria tomado o caminho errado --- chegando `a teoria da nao-propriedade (no-ownership theory) (cf. p. 220). Segundo essa teoria, o uso do pronome `eu' em frases que exprimem estados mentais no tempo presente poderia ser abolido, e "eu tenho dor de dente" seria equivalente a "ha dor de dente".
Apenas nos escritos posteriores a 1933, a comecar pelo Blue Book, W. teria abandonado de vez esse solipsismo metodologico. Nessa ultima fase, W. afirma claramente que o problema do solipsista eh que ele parte de uma confusao gramatical, e, dando-se conta disso ou nao, recomenda uma forma diferente de representacao --- tomando a nossa forma efetiva como sendo inadequada para expressar a posicao especial do sujeito na linguagem. (cf. p. 228). A ``cura'' para o solipsismo consite numa apresentacao cuidadosa da gramatica para falar de estados e eventos mentais, e numa apresentacao cuidadosa dos erros da analise solipsista dessa gramatica.
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