quinta-feira, novembro 10, 2005

Ryle e o autoconhecimento

Estou relendo ``Self-Knowledge'', o classico artigo de Gilbert Ryle  (In: Self-Knowledge, Quassim Cassam (ed.), Oxford U.P., 1994). Nesse artigo Ryle critica a tese do acesso privilegiado aos conteudos mentais, assumindo uma concepcao behaviourista (comportamentalista) radical, que nega qualquer tipo de assimetria entre as perspectivas de primeira e de terceira pessoa acerca dos conteudos desses estados mentais. Segundo Ryle, nao ha senao uma ``diferenca pratica'' (p. 22) ou ``de grau, mas nao de tipo'' (p. 29) entre essas perspectivas. No fundo, conhecer nossos proprios conteudos mentais e os conteudos mentais de outros sujeito requer um ``processo indutivo'' (p. 23), que parte da analise de nosso comportamento, e eh ``ordinariamente confiavel'' (ibid.).

Apesar de discordar completamente dessa analise comportamentalista, que a meu ver ``joga fora o bebe'' (da autoridade da primeira pessoa) ``junto com a agua suja do banho'' (o dualismo cartesiano), concordo sem restricoes com a seguinte conclusao (deixo em ingles mesmo para nao perder a beleza quase poetica da passagem com uma traducao descuidada):

No metaphysical Iron Curtain exists compelling us  to be for ever absolute strangers to one another, though ordinary circumstances, together with some deliberate management, serve to maintain a reasonable aloofness. Similarly no metaphysical looking-glass exists compelling us to be for ever completely disclosed and explained to ourselves, though from the everyday conduct of our sociable and unsociable lives we learn to be reasonably conversant with ourselves... (p. 31)

A meu ver essa poderia ser uma excelente epigrafe para o livro de Richard Moran, Authority and Estrangement (Princeton U.P., 2001), que apresenta uma explicacao muito mais sensata e equilibrada dos sucessos e inssucessos do auto-conhecimento --- o bebe fica limpinho, a agua suja do banho eh jogada fora.

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