Não se pode fingir que tudo sobre essa explicação do "eu" do psicólogo racional seja claro; mas é claro que Kant vê a si mesmo como oferecendo uma explicação não-denotativa de seu significado; e também é claro que ele vê o psicólogo racional como interpretando mal o "eu" em seu significado não-denotativo, como denotativo, e por conseguinte -- justamente porque abandonou todas as complexidades da referência empírica -- como denotando uma substância única, simples, e imaterial da qual todos os seus estados internos são, de alguma maneira, determinações. (p.255-256)
Muitos intérpretes (a começar por Anscombe) atribuem uma tese como essa (da função "não-denotativa" do "eu") a Wittgenstein. A meu ver, Wittgenstein poderia concordar com a parte negativa desse diagnóstico de Strawson (acerca da origem da "psicologia racional"), mas ele não iria tão longe a ponto de afirmar que "eu" tem um "significado não-denotativo". A questão é: o que se quer dizer com "significado não-denotativo"? Se "significado" quer dizer "regra semântica para o uso" (do "eu"), acho que ele daria de barato a tese de que o "eu" é uma expressão referencial (ou seja, a regra da auto-referência dá conta das condições de verdade de frases que contenham o pronome "eu"). Mas há muito mais do que simplesmente regras para semânticas em jogo na análise wittgensteiniana do "eu". Os intérpretes que defendem a interpretação não-referencial parecem esquecer disso (não sem alguma justificação doutrinária, mas ainda assim, em geral de forma tácita e não argumentada.)
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