(i) só podemos saber ou ter certeza daquilo que também podemos duvidar;
(ii) a dúvida está (gramaticalmente) excluída em casos de estados, atitudes, etc., expressos por frases que empregam o pronome de primeira pessoa no tempo presente;
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(iii) é gramaticalmente incorreto, ou, na melhor das hipóteses, inócuo, prefixar essas frases com o verbo "saber", dizendo, e.g., que sei que estou com dor, etc..
A tese (i) me parece bastante razoável. A conclusão (iii) é extremamente contra-intuitiva, para dizer o mínimo. Para não dizer o mínimo, ela é absurda, e deixa de fora de nossa imagem da natureza humana elementos essenciais acerca do autoconhecimento, e especialmente do conhecimento prático. Como o argumento é válido, deve haver algum problema em (ii).
Vários filósofos contemporâneos apontam, a meu ver, de maneira absolutamente contundente, para as limitações de nosso autoconhecimento, para sua falibilidade, e para a possibilidade de termos dúvidas genuínas -- pelo menos em alguns casos -- a respeito do próprio conteúdo de nossos estados mentais (vide Moran e os externalistas em geral). E essa seria uma ótima razão "externa" à interpretação de W. para negar (ii). Mas a há também importantes razões "internas"(exegéticas) para tanto. Em outras palavras, penso que (ii) não é apenas falsa, mas falsifica a posição de W. As seguintes passagem das Investigações indicam claramente que (ii) não apanha corretamente sua concepção a respeito do autoconhecimento:
586. [...] The exclamation "I'm longing to see him!" may be called an act of expecting. But I can utter the same words as the result of self-observation, and then they might mean: "So, after all that has happened, I am still longing to see him." The point is: what led up to these words?
587. Does it make sense to ask "How do you know that you believe?"—and is the answer: "I know it by introspection"?
In some cases it will be possible to say some such thing , in most not.
It makes sense to ask: "Do I really love her, or am I only pretending to myself?" and the process of introspection is the calling up of memories; of imagined possible situations, and of the feelings that one would have if . . . . (Negrito adicionado)
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