sábado, junho 24, 2006

O fantasma na máquina: Ryle e Wittgenstein

No primeiro capítulo de The Concept of Mind, Gilber Ryle apresenta o que ele chama de "mito do fantasma dentro da máquina", ou seja, a doutrina segundo a qual viveríamos uma "dupla vida" -- a vida "física", espaço-temporal, e a vida "mental" ou imaterial. Segundo ele, essa doutrina fundamenta-se num erro categorial: seu defensor apresenta os fatos da vida mental como se pertencessem a uma categoria lógica quando na realidade pertencem a outra. O diagnóstico desse erro é apresentado na seguinte passagem:

A representação de uma pessoa como se fosse um fantasma na máquina deriva deste fato. Uma vez que o pensamento, o sentimento e os atos de uma pessoa não podem ser descritos unicamente com a linguagem da física, química e fisiologia, supõe-se que devem ser descritos em termos análogos. Como o corpo humano é uma unidade complexa organizada, a mente humana também deve ser uma unidade complexa organizada, ainda que constituída de elementos e de uma estrutura diferentes. Como o corpo humano, igualmente a qualquer outra porção de matéria, está sujeito a causas e efeitos, também a mente deve estar sujeita a causas e efeitos, mas (Deus seja louvado) de tipo não mecânico.

No Blue Book, Wittgenstein apresenta o caminho que leva alguém a sustentar uma posição solipsista, e chega a um diagnóstico muito similar:

Quando eu disse, sinceramente, que apenas eu vejo, eu também estava inclinado a dizer que por "eu" eu não significava realmente L. W., embora pelo benefício de meus companheiros eu podia dizer "Agora é L. W. que realmente vê", mas isso não é o que eu realmente quero significar. Eu poderia quase dizer que por "eu" eu significo algo que exatamente agora habita L. W., algo que os outros não podem ver. (Eu queria dizer minha mente, mas só podia apontar para ela via meu corpo.) Não há nada errado em se sugerir que os outros deveriam me dar uma posição excepcional na linguagem deles; mas a justificação que eu gostaria de dar para isso: que este corpo é agora o assento daquilo que realmente vive -- é sem sentido. Pois admitidamente isso não é enunciar nada que no sentido ordinário seja uma questão de experiência. ( BB, p. 66)

Assim como há um paralelo no diagnóstico, há um paralelo na solução que ambos os autores irão propor: Ryle tentará "retificar a geografia lógica da mente", expressando as regras lógicas que governam o uso dos conceitos mentais, bem como as relações ou conexões lógicas desses conceitos com conceitos pertencentes a outras "áreas" de nossa linguagem. Do mesmo modo, Wittgenstein tentará nos trazer de volta das "férias" que tiramos de nossa linguagem, lembrando dos usos efetivos de nossos conceitos mentais.

Um comentário:

Anônimo disse...

tentei entender mas nao deu naoooo
HUAHUHUAHUAHUA
mto além da minha capacidadeeee!!!aHUAHUhuaHUAhu
sério mesmo...