O Livro Azul (Blue Book --- abreviacao: BB) eh uma selecao de notas ditadas por Witgenstein aos seus alunos de Cambridge no periodo letivo de 1933-34, e eh assim chamado simplesmente porque o primeiro lote de copias possuia uma capa azul. Numa carta a Russell, junto com a qual W. enviou uma copia do BB, ele (W.) afirmou que tinha ditado essas notas aos seus pupilos ``para que tenham algo para levar para casa com eles, em suas maos se nao em seus cerebros''. O fato eh que esse livro apresenta a primeira tentativa sistematica de organizar os pensamentos da fase madura de W, antecipando muitos pontos que serao tratados depois, especialmente nas Investigacoes Filosoficas (IF). Dada a natureza informal e um pouco mais didatica dessa primeira apresentacao, ela serve como uma otima introducao ao estudo da filosofia madura de W.
O livro comeca com a (famigerada) questao ``O que eh o significado de uma palavra?" (p. 1) Em resposta a essa questao, W. faz uma observacao metodologica que sera crucial para sua filosofia dai por diante: ao inves de investigar diretamente a netureza do ``significado'', eh melhor tentar compreender como funciona uma explicacao de significado. Com isso trazemos a questao do significado "de volta para a terra'' ( down to earth), e, sobretudo, nos livramos da tentacao filosofica de buscar algum tipo de objeto que corresponda ao substantivo "significado" (claramente um adiantamento da critica `a ``concepcao agostiniana da linguagem'', que eh o tema inicial das IF).
W. afirma que explicacoes de significado podem ser grosseiramente divididas em duas especies: verbais e ostensivas (p. 1). Uma vez que definicoes verbais soh nos levam de uma expressao a outra, aparentemente ficamos mais proximos de compreender o significado investigando as explicacoes ostensivas. W. toma como exemplo para a analise dessas definicoes a ordem "Traga-me uma flor vermelha" (p. 3). A pergunta aqui eh como o sujeito pode cumprir essa ordem, uma vez que soh lhe damos uma palavra (`vermelho'). A sugestao que surge naturalmente eh que o sujeito possui um tipo de imagem mental da cor vermelha, e a compara com as flores ateh encontrar a certa. W. assume que isso de fato eh possivel, mas de modo algum necessario , uma vez que poderiamos ao inves disso imaginar que o sujeito simplesmente carrega consigo um cartao de amostras de cor (como aqueles que vemos em lojas de tintas), e compara a cor das flores com as cores impressas no cartao. E aqui temos (sem o uso explicito da expressao) a primeira aparicao de um ``jogo de linguagem'' inventado para clarificar nossas proprias praticas linguisticas. A vantagem de se imaginar isso eh que nos livramos da tentacao de pensar em ``processos mentais ocultos'' por tras do uso da inguagem. A tentacao eh a de analisar a linguagem como sendo composta de duas partes, uma ``inorganica'' (o manuseio de sinais) e uma ``organica'', que eh o entendimento desses sinais, seu significado, interpretacao, etc. (p. 3) Sem esse segundo elemento ``os sinais parecem nao ter vida'' (p. 4). W. esta de acordo com isso, mas sugere que devemos compreender essa "vida" dos sinais nao como sendo dada por um processo mental, e sim pelo uso dos mesmos (p. 4). Para tanto eh importante adotar o metodo de substituir o apelo a processos mentais ou feitos da imaginacao por atos de observar objetos externos reais em explicacoes de significado. Uma vez substituida a imagem mental do vermelho por uma amostra real, pintada no cartao, facilmente percebemos que essa mera imagem nao da vida alguma `a palavra `vermelho'. Ora, mas se eh assim, entao por que deveriamos pensar que a imagem mental o faria?
``O sinal (a frase) adquire seu significado do sistema de sinais, da linguagem `a qual pertence. Grosseiramente: compreender uma frase significa compreender uma linguagem'' (p. 5). Essa afirmacao de W. aponta um tanto obliquamente para algo que sera posteriormente melhor explicado, a saber, a natureza da compreensao gramatical, do conjunto de regras que governam o uso de nossas expressoes. Uma frase soh possui vida como parte do ``sistema da linguagem''. W. certamente nao tinha neste ponto uma compreensao cristalizada desse sistema como sendo parte constitutiva de uma ``forma de vida'', mas mesmo assim esta claramente tentando se afastar da concepcao agostiniana, de pensar em palavras como nomes que referem a algo (um objeto), e frases como meras combinacoes de nomes.
Referencia: The Blue and Brown Books (Harper Torchbooks, US / Basil Blackwell UK, 1960, segunda edicao)
O livro comeca com a (famigerada) questao ``O que eh o significado de uma palavra?" (p. 1) Em resposta a essa questao, W. faz uma observacao metodologica que sera crucial para sua filosofia dai por diante: ao inves de investigar diretamente a netureza do ``significado'', eh melhor tentar compreender como funciona uma explicacao de significado. Com isso trazemos a questao do significado "de volta para a terra'' ( down to earth), e, sobretudo, nos livramos da tentacao filosofica de buscar algum tipo de objeto que corresponda ao substantivo "significado" (claramente um adiantamento da critica `a ``concepcao agostiniana da linguagem'', que eh o tema inicial das IF).
W. afirma que explicacoes de significado podem ser grosseiramente divididas em duas especies: verbais e ostensivas (p. 1). Uma vez que definicoes verbais soh nos levam de uma expressao a outra, aparentemente ficamos mais proximos de compreender o significado investigando as explicacoes ostensivas. W. toma como exemplo para a analise dessas definicoes a ordem "Traga-me uma flor vermelha" (p. 3). A pergunta aqui eh como o sujeito pode cumprir essa ordem, uma vez que soh lhe damos uma palavra (`vermelho'). A sugestao que surge naturalmente eh que o sujeito possui um tipo de imagem mental da cor vermelha, e a compara com as flores ateh encontrar a certa. W. assume que isso de fato eh possivel, mas de modo algum necessario , uma vez que poderiamos ao inves disso imaginar que o sujeito simplesmente carrega consigo um cartao de amostras de cor (como aqueles que vemos em lojas de tintas), e compara a cor das flores com as cores impressas no cartao. E aqui temos (sem o uso explicito da expressao) a primeira aparicao de um ``jogo de linguagem'' inventado para clarificar nossas proprias praticas linguisticas. A vantagem de se imaginar isso eh que nos livramos da tentacao de pensar em ``processos mentais ocultos'' por tras do uso da inguagem. A tentacao eh a de analisar a linguagem como sendo composta de duas partes, uma ``inorganica'' (o manuseio de sinais) e uma ``organica'', que eh o entendimento desses sinais, seu significado, interpretacao, etc. (p. 3) Sem esse segundo elemento ``os sinais parecem nao ter vida'' (p. 4). W. esta de acordo com isso, mas sugere que devemos compreender essa "vida" dos sinais nao como sendo dada por um processo mental, e sim pelo uso dos mesmos (p. 4). Para tanto eh importante adotar o metodo de substituir o apelo a processos mentais ou feitos da imaginacao por atos de observar objetos externos reais em explicacoes de significado. Uma vez substituida a imagem mental do vermelho por uma amostra real, pintada no cartao, facilmente percebemos que essa mera imagem nao da vida alguma `a palavra `vermelho'. Ora, mas se eh assim, entao por que deveriamos pensar que a imagem mental o faria?
``O sinal (a frase) adquire seu significado do sistema de sinais, da linguagem `a qual pertence. Grosseiramente: compreender uma frase significa compreender uma linguagem'' (p. 5). Essa afirmacao de W. aponta um tanto obliquamente para algo que sera posteriormente melhor explicado, a saber, a natureza da compreensao gramatical, do conjunto de regras que governam o uso de nossas expressoes. Uma frase soh possui vida como parte do ``sistema da linguagem''. W. certamente nao tinha neste ponto uma compreensao cristalizada desse sistema como sendo parte constitutiva de uma ``forma de vida'', mas mesmo assim esta claramente tentando se afastar da concepcao agostiniana, de pensar em palavras como nomes que referem a algo (um objeto), e frases como meras combinacoes de nomes.
Referencia: The Blue and Brown Books (Harper Torchbooks, US / Basil Blackwell UK, 1960, segunda edicao)
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